Andei pela estrada afora e não pude publicar o "Poemas de Quinta" no dia que deveria, mas hoje também é um belo dia para a alegria. (Bella)


A escolha de hoje é uma moça hermética, que escreveu pouco, mas muito fundo. Poesia com gosto e língua de hoje.


Nada, Esta Espuma
Por afrontamento do desejo
insisto na maldade de escrever
mas não sei se a deusa sobe à superfície
ou apenas me castiga com seus uivos.
Da amurada deste barco quero tanto os seios da sereia.

olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas.

Um Beijo
que tivesse um blue.
isto é
imitasse feliz
a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás
de decolagem:
leitor ensurdecido
talvez embevecido
"ao sucesso"
diria meu censor
"à escuta"
diria meu amor
sempre em blue
mas era um blue
feliz
indagando só
"what's new"
uma questão
matriz
desenhada a gizentre um beijo
e a renúncia intuídade outro beijo.
A Ponto de Partir
A ponto de
partir, já sei
que nossos olhos
sorriam para sempre
na distância.
Parece pouco?
Chão de sal grosso, e ouro que se racha.
A ponto de partir, já sei que nossos
olhos sorriem na distância.
Lentes escuríssimas sob os pilotis.

aNA cRISTINA cÉSAR
Gostava de ser chamada de Ana C. Nasceu em 1952, no Rio de Janeiro.
Saiu “mocinha” do Brasil em 68 e foi para Londres.
Rodou a Europa.Parou de ir à missa.Participou dos movimentos
underground de 70, publicando poesia
em jornais alternativos, produzidos
em mimeógrafos! Vento do novo na poesia.

Cansou-se deste mundo e se matou em 83.


cOLABORADORA:


+
um amigo, que está em Portugal, lembrou-me de tardes lindas, banhadas a Ana C., Grécia arcaica, literatura fantástica e artigos proibidos.
Para você, Salmer.

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